'Fui meio que um bode expiatório', afirmou Luís Gustavo Chavez.
Técnico em informática havia sido preso na manhã deste domingo (4)
O técnico em informática Luís Gustavo Mendanha Chavez, de 23 anos, negou que tenha pichado a frente do Palácio dos Bandeirantes, na Zona Sul de São Paulo, durante uma manifestação na madrugada deste domingo (4). A Polícia Militar o prendeu nesta manhã por suspeita de dano ao patrimônio público.
Ele participava do protesto em frente à sede do governo com outros 20 manifestantes desde a manhã de sábado (3). "Fui meio que um bode expiatório", declarou ao G1, em uma unidade de uma rede de fast food na Avenida Faria Lima, onde almoçou com seu advogado depois de ser liberado pela Justiça.
A parede já foi repintada. Os manifestantes passaram a ser monitorados por uma câmera da PM, assim como o muro. Apesar de o acusado negar o crime, a Polícia Civil chegou a arbitrar uma fiança de R$ 5 mil para liberá-lo.
Luís Gustavo contou que foi preso no momento que deixou a manifestação, no começo desta manhã. "Eu tinha plantão hoje (neste domingo), e falei que ia embora, umas 5h50, 6h. Peguei um ônibus sozinho. Uns 500 metros depois, quatro viaturas com três policiais cada uma pararam o ônibus. Pediram para eu descer. Eu desci, tranquilo. Um deles me empurrou, perguntou se eu tinha droga comigo, tiraram meus tênis, levantaram a minha camisa. Não resisti em nenhum momento. Daí me levaram para o 89º distrito policial (no Morumbi). Chegando lá, um dos policiais à paisana começou a fazer uma pressão psicológica, começou a falar várias coisas. Não respondi nada. Mesmo assim fui preso”, ressaltou.
Na revista pela qual passou, os policiais encontraram apenas uma máscara de pintor. Além disso, um dos motivos alegados para a prisão foi o fato de o manifestante estar com as mãos manchadas de tinta. “A tinta nos meus dedos é porque eu estava fazendo cartazes, tinta guache. Inclusive, a tinta não é nem da cor do spray (da pichação). E em todos os atos, eu usei a máscara (de pintor). Porém, não estava usando ela (no momento da prisão). Eu adquiri a máscara por causa do gás (lacrimogêneo e de pimenta, utilizado pela PM para reprimir atos de vandalismo nas manifestações)”, explicou.
Luís Gustavo disse que começou a participar das manifestações em apoio ao Movimento Passe Livre e que, nos últimos protestos, decidiu aderir para reivindicar serviços públicos de qualidade. O técnico em informática negou que tenha contato com os organizadores das manifestações ou com integrantes dos grupos conhecidos como Black Blocs e Anonymous.
“Não sou simpatizante e não compartilho a ideologia deles. Só questão de curiosidade mesmo. Não conheço ninguém aqui em São Paulo. Sou de Rondônia, Porto Velho. Vim para cá há um ano e quatro meses”, afirmou, ao ser indagado sobre o fato de a página pessoal dele no Facebook ter link para as comunidades destes grupos.
Ele negou também ter se envolvido em episódios violentos ou de vandalismo nas manifestações anteriores das quais participou. “Quando começa a confusão, com bomba de gás e bala de borracha, todo mundo sai correndo, mas nada de enfrentar (a PM). Também não sou a favor disso", disse.
E fez questão de lembrar que a manifestação em frente ao Palácio dos Bandeirantes era totalmente pacífica. "Tirando essa pichação, não teve nada. Fui meio que um bode expiatório. Escolheram um aleatoriamente. Me pegaram sozinho, no ônibus. Se eles achavam que era eu mesmo, porque não foram me pegar lá com o pessoal da manifestação?”, indagou.
E voltou a reforçar a sua inocência em relação à pichação. “Não pichei. Deve ter alguma imagem dos outros pichando, mas não da minha pessoa. Sempre tinha manifestante lá na frente do portão. O pessoal ia e voltava (de um lado e do outro da rua). Eles devem ter me confundido neste momento”, disse. Apesar da prisão, ele disse que vai continuar participando das manifestações.
O advogado de defesa de Luís Gustavo, André Lozano Andrade, disse que obteve o relaxamento da prisão já neste domingo por absoluta falta de provas. "O próprio juiz falou que não fazia sentido indiciar uma pessoa em flagrante sem ter os objetos do crime ou o produto do crime. Ele teria que ter um spray, um pincel atômico, algo do tipo”, afirmou Andrade.
Omissão de socorro
Ainda em frente ao Palácio, uma manifestante passou mal nesta manhã e, segundo seus colegas denunciaram à equipe de reportagem, policiais militares se recusaram a prestar os primeiros socorros e a ambulância do Corpo de Bombeiros demorou a levá-la a um hospital.
Ainda em frente ao Palácio, uma manifestante passou mal nesta manhã e, segundo seus colegas denunciaram à equipe de reportagem, policiais militares se recusaram a prestar os primeiros socorros e a ambulância do Corpo de Bombeiros demorou a levá-la a um hospital.
Um vídeo foi publicado pelos ativistas na internet acusando os agentes de omissão de socorro. As imagens mostram a vítima se contorcendo no chão e os seus companheiros pedindo ajuda para os policiais. Uma ambulância levou a jovem a um hospital, onde foi medicada e liberada. Ela teria tido uma convulsão.
Procurados, os PMs da sede do governo não quiseram comentar o assunto. A Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP) negou ter ocorrido 'omissão de socorro' por parte dos policiais ou dos bombeiros (leia mais abaixo).
Segundo os manifestantes, os mesmos PMs também os pressionaram a desobstruir o portão da sede do governo, na noite de sábado. Por esse motivo, os ativistas passaram a ocupar uma calçada do outro lado da Avenida Morumbi, de frente para o palácio. Três barracas de camping, cartazes e jovens mascarados e sem máscara participavam pacificamente do "Ocupa Alckmin".
Esse protesto está sendo convocado pelas redes sociais na internet. Se dizendo apartidários e representantes da sociedade civil, sem ligação com movimentos organizados, os ativistas protestam contra o governador Geraldo Alckmin (PSDB). Eles pedem a saída do governador e cobram esclarecimentos de um suposto cartel para licitações nas obras de trens e metrôs em São Paulo.
Apesar da animosidade entre manifestantes e policiais militares, não houve confronto entre eles nesses três dias que ocupam a frente do palácio.
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