sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Baterista de Bruce Springsteen diz ser privilégio ter 'chefe trabalhador'

Em entrevista ao G1, Max Weinberg fala sobre show no Rock in Rio.

Membro da E Street Band, ele já tocou no talk-show de Conan O'Brien.




O baterista Max Weinberg usa o termo “trabalho” uma vez a cada dois minutos, em média. Às vezes, varia – fala em "serviço". Não parece sem motivo: aos 62 anos de idade, o músico quer se mostrar um funcionário dedicado. Desde 1974, seu chefe é Bruce Springsteen, que tem o sintomático apelido de The Boss (O Patrão) e toca com sua The E Street Band no Rock in Rio, em 21 de setembro, e em São Paulo, três dias antes.
Durante entrevista ao G1 por telefone, Weinberg comenta rindo que, em cerca de 40 anos no grupo, especializou-se nesta função: “Me tornei bastante profissional como observador do Bruce". Para ele, "o trabalho do baterista numa banda é prestar atenção no lugar onde está acontecendo a 'ação' – e, na nossa banda, a 'ação' está em Bruce Springsteen".

Weinberg é mesmo comprometido, mas ao longo de 17 anos não foi Bruce seu patrão exclusivo. Entre 1993 e 2010, as ordens vinham de Conan O’Brien, popular apresentador de um programa de TV noturno dos Estados Unidos. Integrante da banda da atração, o baterista estava para O’Brien como Derico está para Jô Soares: além de músico, atuava eventualmente como alvo das piadas.Veja, abaixo, uma lista de músicos populares por "interagir" com apresentadores.
Ao se lembrar do período em que se dedicou ao “humor”, Weinberg novamente recorre às palavras favoritas do vocabulário. “Jamais tinha feito nada como aquilo. Eles me pediram para fazer e eu disse que iria tentar... Meu trabalho na TV ou num show, qualquer coisa, é estar ‘a serviço’”, justifica. Leia, a seguir, os principais trechos da conversa, na qual ele comparaBruce Springsteen não a um artista, mas a um inventor, Thomas Edison (1947-1931).
MÚSICO E 'ESCADA'
Integrantes de bandas de programas de TV conhecidos por 'interagir' com apresentadores
Derico, do 'Programa do Jô' (Foto: Divulgação / Sesc Catanduva)
Derico, do 'Programa do Jô'
João Frederico Sciotti, o Derico, acompanha Jô Soares desde 1990. É alvo constante das brincadeiras do apresentador.
Paul Shaffer, do programa de David Letterman (Foto: Divulgação/CBS)
Paul Shaffer, do 'Late Night with David Letterman'
O pianista é o diretor musical do programa, no qual "atua" desde o começo dos anos 1980.
Caçulinha (Foto: TV Globo / Zé Paulo Cardeal)
Caçulinha, do 'Domingão do Faustão'
O maestro participa desde a estreia do programa, onde fez trilha sonora ao vivo e participou de piadas de Fausto.

 
Roger Moreira do Ultraje a Rigor (Foto: Caliandra Segnini/G1)
Roger Moreira, do 'Agora é tarde'
O músico é líder do Ultraje a Rigor, banda que faz a trilha sonora do programa de Danilo Gentili na Band.
 
Questlove, do The Roots (Foto: Divulgação)
Questlove, do 'Late Night with Jimmy Fallon'
O baterista é o 'homem de frente' do The Roots, que toca desde 2009 com Fallon.
 
 G1 – A turnê começou há muito tempo e o show no Rock in Rio está previsto para ser o último da excursão. Estão animados ou aliviados pelo término das viagens?
Max Weinberg –
 Não! Nós estamos muito empolgados de ir à América do Sul – e ao Rio, claro. O Rio de Janeiro, para nós da América do Norte, sempre representou o mais exótico dos lugares. Então, é uma emoção finalmente poder tocar lá.
Na verdade, você tem razão, começamos a turnê em março passado, e nós estamos mais... Comprometidos e animados. Depois de fazer 125 ou 130 shows, continua incrivelmente divertido. Bruce está tocando músicas diferentes a cada noite. Ele sempre fez isso, mas particularmente agora tem optando por tirar da manga coisas antigas.
G1 – Nem um pouco cansados?
Max Weinberg –
 Nós não estamos cansados, de jeito nenhum. Quer dizer, estamos apenas fisicamente cansados, mas os shows não refletem isso, damos mil por cento a cada noite. Acho que é por isso que as pessoas costumam voltar [para ver novos shows de Bruce]. Porque não é apenas para ver variação de músicas de uma noite para outra – o que no mundo da música de hoje em dia é bastante incomum, sabe? Mas porque você encontra uma apresentação de 3 horas
G1 – Ouvi dizer que, durante os shows do Bruce Springsteen and The E Street Band, você nunca para de olhar para o Bruce Sprigsteen. Por quê?
Max Weinberg –
 O trabalho do baterista numa banda é prestar atenção no lugar onde está acontecendo a “ação”. E, na nossa banda, a “ação” está em Bruce Springsteen. Tem muitas coisas espontâneas, não há um plano prévio estabelecido. Mudamos as coisas o tempo inteiro. Então, meu trabalho é ficar bem de olho, atento. Se o show dura três horas, tenho de assistir ao Bruce durante essas três horas. Porque há uma única certeza: a de que você nunca está completamente certo do que Bruce vai fazer. Tem que ficar ligado. Ao longo de quase 40 anos, me tornei bastante profissional como observador do Bruce (risos).
O Irv Cottler, baterista do Frank Sinatra, por exemplo, tocou com ele por quase 50 anos. Era uma relação muito, muito especial, porque ele permitia ao cantor ter certa liberdade para fazer o que sentia no momento. Tem uma coisa importante com a E Street Band que não acho que nenhuma outra banda por aí tenha: nós focamos totalmente no momento – sentimos aquilo que vem do público. É por isso que mudamos as coisas. Quando você nos vir no Rock in Rio, aquele vai ser um show único – esta é a grande diferença.
Max Weinberg (ao fundo) e Bruce Springsteen, durante show da E Street Band (Foto: Agência Zero)Max e Bruce durante show da E Street Band
(Foto: Agência Zero)
G1 – Em uma entrevista, você já comparou Bruce Springsteen a Thomas Edison. O que há em comum entre um músico e um inventor?
Max Weingerg –
 No começo do século XX, a irmã mais velha da minha mãe trabalhou no laboratório do Thomas Edison. Lá, ela conheceu o marido dela. Meu tio dizia que trabalhar com ele [Thomas Edison] significava estar com um homem incrível. É assim que todos nos sentimos trabalhando para o Bruce. Ele não é apenas absurdamente talentoso, óbvio – mas também uma inspiração. Ele nos faz querer alcançar um nível mais elevado, nos faz buscar novas formas de expressão, para não nos acomodarmos com as conquistas do passado.
Acredito que seja essa a marca de um grande homem ou de uma grande mulher. São grandes com relação aos objetivos, num significado mais profundo. Thomas Edison, certamente, fazia isso. Todos nós achamos que é um privilégio trabalhar tão próximo de alguém que é um verdadeiro criador.
G1 – Bruce Springsteen uma vez afirmou que você ‘é o maior baterista do mundo’. Devolveria o elogio, dizendo que ele é o maior cantor do mundo?
Max Weinberg –
 Obviamente, não cabe a mim julgar minha posição com relação aos bateristas do mundo, sabe? Bruce é, certamente, o cantor mais dedicado e inspirador que já vi. É alguém que leva tão a sério o que faz – e que se diverte levando isso a sério. Há tantos cantores maravilhosos... Só que Bruce é completamente único, e é isso caracteriza os grandes cantores. Há um único Pavaroti, um único Frank Sinatra, um único Paul McCartney, um único John Lennon... A lista vai longe. Bruce combinou todas as influências que foram absorvidas enquanto ele crescia – James Brown, Elvis Presley, Bob Dylan... –, para criar sua própria personalidade musical e vocal.
G1 – Além de tocar na E Street band, você trabalhou na banda do talk-show do Conan O’Brien. Isso foi importante para tornar você popular na TV, não?
Max Weinberg –
 Eu me diverti incrivelmente fazendo o “Late Night”, na NBC, por 16 anos. No “Tonight Show”, fiquei uns dez meses, acho. É muito diferente [de estar na E Street Band], porque você está trabalhando para uma grande corporação, tem um lado muito business... Quando comecei lá, tinha 42 anos de idade e estava pronto para aquele tipo de envolvimento corporativo. Fiz bastante comédia lá (risos), fiquei muito contente de liderar um grupo incrível de músicos. Acho que, naquela época, éramos a melhor banda na TV – tinha muito orgulho daqueles caras.
Foi um trabalho ótimo, meus filhos eram novos quando comecei. Então, consegui passar muito tempo em casa. Esta era a melhor parte: a condição de ter uma vida familiar, voltar para a casa depois do trabalho. Tive sorte de fazer isso, mas meu coração, minha paixão é tocar com Bruce e a E Street Band. 
Ao longo de 17 anos, eu era o cara a quem eles recorriam quando havia as coisas mais escandalosas a serem feitas (risos)."
Max Weinberg, sobre seu trabalho na TV
G1 – Você já tinha feito humor antes de tocar na TV?
Max Weinberg –
 Não, jamais tinha feito nada como aquilo. Eles me pediram para fazer e eu disse que iria tentar... Meu trabalho na TV ou num show, qualquer coisa, é estar “a serviço”. Então, eu disse que faria o meu melhor, e eles que se decidissem se eu era engraçado ou não. Ao longo de 17 anos, eu era o cara a quem eles recorriam quando havia as coisas mais escandalosas a serem feitas (risos). Fiquei feliz em fazer isso, era um desafio.
G1 – Você falou agora há sobre seu casal de filhos. O rapaz, Jay, é baterista, certo?
Max Weinberg –
 Sim, um baterista fenomenal, gosta de coisas antigas. Heavy metal, progressivo, são o estilo. Ele vai se formar na faculdade em dezembro, acho que uma grande boa banda deveria recrutá-lo. É um músico incrível e também faz artes gráficas. Minha filha tem 26 anos e trabalha em Washington, no noticiário político da NBC. Sou muito orgulhoso dos meus filhos, porque são independentes e fazem suas próprias coisas. 
G1 – Mas Jay já tocou com a E Street Band... Como foi isso para você?
Max Weinberg –
 Sim (risos). Foi incrível, ele me substituiu, acho que por uns 15 ou 20 shows. Eu estava fazendo o programa de TV e tive conflitos de agenda. Foi muito legal ver meu filho tocando na minha banda e fazendo um bom trabalho, sabe? Ele não conseguiu o trabalho porque é meu filho, mas porque era o melhor e mais qualificado baterista apto a fazer isso. Ele cresceu envolvido com música, conhecia o Bruce, claro, e todo mundo na banda – foi uma solução elegante para o problema de agenda.
Alguns amigos meus do mundo da música têm filhos que são músicos também. E uma coisa que ouço é: “Eu nunca vou ver meu filho tocando na minha própria banda.”. Na verdade, eu consegui ver meu filho tocando com Bruce Springsteen e a E Street Band, algo único.
G1 – Por que tocar ao vivo ainda é divertido depois de 40 anos na E Street Band?
Max Weinberg –
 Sempre que penso nisso, lembro-me de uma coisa que o presidente Kennedy disse, sobre usar com excelência toda a habilidade que você tem. Você não pode imaginar o impacto que ele teve – como presidente e como indivíduo – para alguém da minha idade, da minha geração, [que viveu] nos anos 1960. Lembro de ler esta declaração dele quando eu estava nos primeiros anos do ensino médio.
Eis o porquê ser tão prazeroso e gratificante estar na E Street Band. Você usa todas as suas habilidades que tem absolutamente no nível mais elevado de performance. Poder fazer isso pela quinta década seguida é um privilégio tremendo. Levamos isso muito a sério. É um serviço que proporcionamos às pessoas, acho: permitir que elas se transformem, esqueçam os problemas por algumas horas e saiam um pouco de si. Nós vamos ao palco, tocamos de verdade, com dedicação e paixão. Acho que é isso que o presidente Kennedy queria dizer.

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