sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Entenda a crise política no Egito

Exército derrubou e prendeu islamita Morsi e prometeu transição de poder. País passou por crise semelhante em 2011, na queda do ditador Mubarak. Palco de uma mudança política desencadeada por uma revolta popular que resultou na renúncia, em 2011, do então presidente Hosni Mubarak, na época havia 30 anos no poder, o Egito enfrentou, dois anos depois, novas manifestações populares que terminaram com aderrubada do presidente Mohamed Morsi, em 3 de julho, em um golpe militar. Eleito democraticamente em 2012, Morsi se tornou impopular após suas ações contra o Exército, seu acúmulo de poderes, seu autoritarismo e pela influência política da Irmandade Muçulmana no país. Seu governo, o primeiro de um membro da Irmandade, foi considerado um fracasso político por analistas. Novos protestos da oposição e da população se espalharam e avolumaram pelo país, acirrando as divisões internas e culminando com forças liberais nas ruas exigindo sua renúncia e com um ultimato militar.Um prazo de 48 horas dado no dia 1º expirou em 3 de junho, e os militares anunciaram a queda de Morsi e um plano de transição de poder que previa eleições parlamentares e presidenciais. O Exército exigiu que as “demandas do povo fossem atendidas”, para a alegria dos opositores que reivindicavam a saída de Morsi. O presidente deposto e alguns aliados foram presos, a instabilidade prosseguiu, e confrontos entre militantes islâmicos e forças de segurança deixaram mortos e feridos em vários pontos do país ao longo dos meses seguintes. Eleito em 2012 Morsi foi eleito em 2012, pouco mais de um ano depois da renúncia de Mubarak, nas primeiras eleições democráticas da história do país. Mubarak tinha 82 anos e estava havia 30 no poder quando caiu. O ditador deixou o poder após 18 dias de violentos protestos de rua que deixaram mais de 300 mortos e 5 mil feridos, em um movimento popular inspirado no levante que derrubou o presidente da vizinha Tunísia, Zine El Abidine Ben Ali. A manutenção de Mubarak no poder se tornou mais difícil para Mubarak depois que a Irmandade Muçulmana, de Morsi, anunciou seu apoio oficial à rebelião, e que o presidente dos EUA, Barack Obama, também pressionou pela sua saída imediata. Líderes da União Europeia se juntaram aos apelos pela renúncia. Entre a saída de Mubarak e a eleição de Morsi, o país foi governado por uma junta militar, que comandou uma transição democrática marcada pelas incertezas políticas. Morsi foi eleito em segundo turno, com 13.230.131 votos, contra 12.347.380 para o brigadeiro da reserva Ahmed Shafiq, ex-premiê do regime do derrubado Mubarak. Sua queda colocou fim a um ano de poder islamita marcado por diversas crises e fortes protestos populares, e abriu caminho para uma delicada transição neste país profundamente dividido entre partidários e opositores do presidente deposto. O golpe militar no país árabe mais populoso do mundo provocou inquietação no exterior. Os Estados Unidos pediram para analisar as implicações legais na importante ajuda militar que concede ao Egito, enquanto a Rússia apelou por moderação a todas as partes. Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu para que um regime civil seja restabelecido rapidamente. Veja a cronologia dos problemas no Egito desde que Morsi assumiu o poder, há um ano: - 30 de junho de 2012: Mohamed Morsi toma posse após vencer as eleições presidenciais com 51,73% dos votos. Ele é o primeiro chefe de Estado egípcio a ser eleito democraticamente, e também o primeiro islamita e o primeiro civil a dirigir o país. - 12 de agosto de 2012: Morsi afasta o marechal Hussein Tantawi, ministro da Defesa, que se tornou chefe de Estado após a queda de Hosni Mubarak, e suspende as amplas prerrogativas políticas dos militares. - 22 de novembro de 2012: Início de uma crise política desencadeada por um decreto em que Morsi estende seus poderes e os coloca acima de qualquer controle judicial. No dia 30, um projeto de Constituição é aprovado pela Comissão Constitucional, que foi boicotada pela oposição de esquerda e laica, assim como pelos círculos cristãos. A decisão de Morsi provoca uma série de protestos, que causaram violentos confrontos entre opositores e partidários do regime. Os confrontos causam a morte de sete pessoas e deixam centenas de feridos em 5 de dezembro perto do palácio presidencial. - 8 de dezembro de 2012: Morsi aceita abandonar o projeto que fortalece seus poderes para superar a crise, mas mantém o referendo sobre um polêmico projeto de Constituição. Entre os dias 15 e 22 de dezembro a Constituição defendida por islamitas é aprovada (cerca de 64%), após um referendo boicotado pela oposição. - 24 de janeiro de 2013: Início de uma nova onda de violência entre manifestantes e policiais na véspera do segundo aniversário da revolta que derrubou Mubarak. São registrados sessenta mortes em uma semana, incluindo 40 em Port Said (nordeste), após o anúncio das sentenças de morte de 21 torcedores do clube de futebol local por seu envolvimento em um grave episódio de violência após uma partida contra uma equipe do Cairo (74 mortos em 2012). - 19 de abril de 2013: Mais de cem feridos em confrontos no Cairo entre manifestantes anti e pró-Morsi. - 2 de junho de 2013: A justiça invalida o Senado, que assume o poder legislativo na ausência da Assembleia, assim como a comissão que elaborou a Constituição. A Presidência reage dizendo que o Senado - um organismo historicamente sem poder que ganhou um papel legislativo quando a Assembleia do Povo foi dissolvida por ordem judicial - vai continuar a legislar até que novas eleições legislativas sejam realizadas, e que a lei fundamental é intocável. - 24 de junho de 2013: Ministro da Defesa declara que 'as Forças Armadas têm o dever de intervir para impedir o Egito de mergulhar em um conflito', na véspera do primeiro aniversário da eleição de Morsi. Os líderes da oposição já reivindicam a renúncia do presidente. - 26-29 de junho de 2013: Manifestações pró e anti-Morsi. Os confrontos causam oito mortes, incluindo a de um americano, principalmente em Alexandria e no Delta do Nilo. - 30 de junho de 2013: Manifestações em massa contra o presidente. A multidão ocupa as ruas do Cairo e de muitas outras cidades, gritando "O povo quer a queda do regime", mesmo lema do início de 2011 contra o governo de Hosni Mubarak. Pelo menos dezesseis mortes no país, incluindo oito em confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários a Morsi no Cairo.
 - 1º de julho de 2013: A oposição dá 24 horas a Morsi para que renuncie. O movimento Tamarrod (rebelião, em árabe) pede que o Exército "tome uma posição clara ao lado da vontade popular".
 - 3 de julho de 2013: O Exército anuncia a deposição de Morsi, detém o presidente e promete uma transição.
 - 4 de julho de 2013: O presidente interino, Adli Mansour, prestou juramento ao cargo diante da assembleia geral do Supremo Tribunal Constitucional, a instância judicial que ele mesmo presidia até hoje; a Irmandade Muçulmana, cujos principais líderes foram presos, não reconhece o golpe e convoca protestos.
 - 5 de julho de 2013: Islamitas e opositores convocaram manifestações, e houve novos confrontos com mortes.
 - 8 de julho de 2013: O Exército abriu fogo contra islamitas que tentavam se aproximar do local onde Morsi estaria detido. Houve dezenas de mortos e feridos. A Irmandade Muçulmana convocou novos protestos para a terça-feira (9). O governo interino anunciou um cronograma de transição, rejeitado pelos islamitas. - 9 de julho de 2013: O economista liberal Hazem el-Beblawi, ex-ministro de Economia, foi nomeado premiê interino, em meio a novos protestos de islamitas.
 - 10 de julho de 2013: Ele oferece cargos à Irmandade Muçulmana, que os rejeita. A promotoria manda prender o líder da Irmandade, por incitação à violência.
- 12 de julho de 2013: Manifestantes pró e contra Morsi fazem novos atos públicos.
 - 14 de julho de 2013: O Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, um dos líderes da oposição a Morsi, toma posse como vice-presidente encarregado das relações internacionais.
- 16 de julho de 2013: Novos confrontos de rua entre islamitas e forças de segurança deixam mortos e feridos. O novo gabinete provisório tomou posse, e a Irmandade Muçulmana voltou a contestar a legitimidade do governo.

 - 18 de julho de 2013: A Irmandade Muçulmana acenou com a possibilidade de diálogo por intermédio da União Europeia. O presidente interino do país, Adli Mansour, denunciou tentativas de "levar o Egito ao caos".
 - 21 de julho de 2013: Uma comissão de especialistas nomeada pelo presidente interino Adli Mansur começa a fazer a reforma da Constituição do Egito, suspensa depois da queda de Morsi.
 - 23 de julho de 2013: Confrontos com mortes continuam, e negociação entre exército e islamitas parece cada vez mais distante.
 - 24 de julho de 2013: O Ministério Público do Egito ordena a prisão do líder da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie, e de oito membros de alto escalão do movimento islâmico, em uma investigação sobre as acusações de incitação à violência.
 - 25 de julho de 2013: O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, exige dos militares egípcios a libertação do presidente deposto Mohamed Morsi e de outros líderes da Irmandade Muçulmana
- 26 de julho de 2013: Novos confrontos entre partidários e adversários de Morsi deixam pelo menos dois mortos e dezenas de feridos no Egito.
 - 27 e julho de 2013: Ataques das forças de segurança contra manifestantes pró-Morsi no Cairo deixam cerca de 70 mortos. EUA se dizem "profundamente preocupados" com a violência no país
 - 30 de julho de 2013: A chefe da diplomacia da União Europeia, Catherine Ashton, se reúne com Morsi, ainda detido em local secreto.
 - 31 de julho de 2013: Comunidade internacional faz apelos à reconciliação nacional após fracasso da manifestação de '"um milhão" convocada pela Irmandade Muçulmana. Apenas algumas dezenas de milhares de manifestantes responderam à convocação. O governo interino encarrega a polícia de tomar as "medidas necessárias" para colocar fim aos protestos. Ainda assim, islamitas convocam novas manifestações.
 - 2 de agosto de 2013: Estados Unidos declararam que os militares do país estavam"restaurando a democracia" ao deporem o líder eleito, o que faz partidários de Morsi convocarem novos protestos. A Anistia Internacional pede investigação sobre torturas no Egito.
 - 3 de agosto de 2013: O chefe da rede Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, acusa os Estados Unidos de organizar um complô com o Exército egípcio para derrubar Morsi. Enviado dos EUA faz tentativa de mediação para evitar que a dispersão anunciada das manifestações de partidários Morsi se transforme em um banho de sangue.
- 4 de agosto de 2013: Autoridades aeroportuárias egípcias impedem a vencedora do prêmio Nobel da Paz e ativista iemenita Tawakul Karman de entrar no país. Ela havia anunciado sua solidariedade a Morsi.
 - 5 de agosto de 2013: Enviados internacionais visitam o vice-líder da Irmandade Muçulmana, Khairat El-Shater, na prisão, em busca de uma solução para a crise.
- 6 de agosto de 2013: Emissários internacionais intensificam as negociações no Cairo para tentar tirar o país do atoleiro político, multiplicando contatos entre as novas autoridades.
- 7 de agosto de 2013: Presidência do Egito anuncia fracasso das mediações internacionais e culpa a Irmandade Muçulmana. EUA e União Europeia se manifestam. O premiê interino Hazem el-Beblawi diz que o governo não recuou da decisão de colocar fim a dois acampamentos de partidários de Morsi e afirma que a paciência das autoridades está quase acabando.
 - 8 de agosto de 2013: no feriado islâmico do Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã, partidários de Morsi fazem um protesto festivo no Cairo pedindo sua volta. Exército evita agir e não cumpre ameaça de acabar à força com os acampamentos.
 - 9 de agosto de 2013: O guia supremo iraniano, o aiatolá Ali Khamenei, alerta para uma possível guerra civil no Egito. Milhares de manifestantes pró-Morsi voltam às ruas de diversas cidades do país. Confrontos são registrados.
- 12 de agosto de 2013: A justiça egípcia anuncia a prorrogação por 15 dias da prisão preventiva de Morsi. Apoiadores do presidente deposto fazem novos protestos ao redor do país.
 - 13 de agosto de 2013: Grupos pró e contra Morsi se enfrentam no Egito - uma pessoa morre. Segundo jornal estatal, governo ainda decide se avançará contra os acampamentos. A vencedora do prêmio Nobel da Paz e ativista iemenita Tawakul Karman diz que o golpe no Egito é letal para democracia árabe.
 - 14 de agosto de 2013: Forças de segurança cumprem ameaça e avançam contra acampamentos de partidários de Morsi com policiais, blindados e helicópteros, deixando centenas de mortos e milhares de feridos. O governo decreta estado de emergência por um mês e impõe toque de recolher no Cairo e em outras cidades, de 19h às 6h. Também é anunciado o fechamento por tempo indeterminado da passagem de fronteira com o território palestino da Faixa de Gaza. O vice-presidente interino Mohamed ElBaradei, Nobel da Paz, anuncia que está deixando o governo, por não concordar com a violência. A Casa Branca afirma que é contrária ao estado de emergência, e a comunidade internacional condena a violência.
 - 15 de agosto de 2013: governo atualiza o número de mortos no confronto do dia anterior, que passa de 500, entre civis e policiais. Novos protestos são convocados, resultando em confrontos e mais mortes. O primeiro-ministro da Turquia denuncia um massacre e pede ação da ONU - que pede uma investigação sobre a conduta das forças de segurança e alerta para o risco de represálias anticristãs no Egito. A Irmandade Muçulmana diz ter sofrido um "forte golpe", e o Papa Francisco reza pelas vítimas. O presidente dos EUA, Barack Obama, condena o ocorrido no país e cancela os exercícios militares que seriam realizados com o Egito, e pede que os cidadãos americanos deixem o país.
 - 16 de agosto de 2013: o país amanhece sob tensão, após os islamitas terem convocado novas manifestações, batizadas como "Marcha da ira" ou "Sexta da fúria". O Exército aumenta seu contingente no centro do Cairo. tópicos: Cairo, Egito, Hosni Mubarak, Mohamed Morsi

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